25 abril 2009

Não, não somos certamente os mesmos

Bruno pensava que tinha havido uma alteração subtil mas definitiva na sociedade ocidental em 1974-1975. Ele continuava deitado no declive relvado do canal e tinha o blusão de gabardina, enrolado debaixo da cabeça, a servir-lhe de almofada. Arrancou um tufo de erva e sentiu-lhe a rugosidade húmida. Nesses anos em que tentava penosamente chegar à vida de adulto, as sociedades ocidentais afundavam-se numa coisa sombria qualquer. Nesse Verão de 76, já era evidente que as coisas iriam acabar muito mal. A violência física, a manifestação mais perfeita do individualismo, iria reaparecer no Ocidente como continuação do desejo.

Michel Houellebecq, Partículas Elementares, Círculo de Leitores, 2000

(E não me conformo que tenhamos aprendido tão pouco com os nossos pais.)

1 comentário:

Marta disse...

Fabulosa Elis Regina!