22 abril 2009
Quotas
Há mulheres que dizem:
meu marido se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Adélia Prado in Poesia Reunida,1999
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1 comentário:
Com esta imagem, a esta hora, eu parava já aqui para almoçar :)
O poema?
Lindíssimo. Ao almoço. Ao jantar. Ao pequeno-almoço, até!
«O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo».
Tanto!
Adélia Prado, no seu melhor!
Gosto muito. íssimo do que escreve.
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