31 dezembro 2009
La Boca, um lugar que não agradava a Borges
A manhã quente de Verão conduz-nos por este bairro rente ao estádio do Boca Júniores (La Bombonera), verdadeira catedral que tem como Santo maior o que aqui nasceu e dá pelo nome de Diego Maradona.
O bairro La Boca foi fundado por gente que para aqui emigrava e que, chegados por mar, olhavam a cidade através do desemboque (La Boca) do pequeno rio que a percorre e por onde chegariam a terra.
Sítio de genoveses que nos idos oitocentos fundaram aqui uma república independente da Argentina dos terratenientes, mas ligada à sua Itália reunificada.
As construções antigas, de madeira e chapa, foram sendo pintadas com restos de tinta fornecida (quantas vezes sem o saberem) pelos estaleiros de reparação de navios, criando uma original e fascinante composição de corres garridas. Visível por todo o bairro predomina na Rua Caminito.
30 dezembro 2009
Dança comigo, Buenos Aires
Fotos de C.
28 dezembro 2009
A cidade, a livraria, o teatro e tudo
E depois, um lugar que transforma edifícios de teatro decadentes em livrarias pujantes, tem de ser um sítio onde nos sentimos felizes.
23 dezembro 2009
...porque a única verdade é que vivemos
Eu ainda choro com esta sensação de vida. Ainda não desisti de ser apaixonado. Já sinto passar o tempo, mas ainda não quero chegar à idade da sabedoria. »
Luís Miguel Cintra
Foto de Stefano Corso
* John Firmin - Harlem Nocturne
22 dezembro 2009
Bom Natal
21 dezembro 2009
Hipátia de Alexandria
Estudou em Atenas durante a adolescência e, quando voltou à sua cidade, tornou-se professora da Academia de Alexandria. Dedicava-se à matemática, à filosofia e à astronomia.
Vivendo numa época de grandes controvérsias e numa cidade que estava no centro de grandes debates religiosos, defendeu sempre o aprofundamento do conhecimento e ensinou os alunos a não permitirem que a crença fosse impeditiva da evolução da ciência.
Criou alguns instrumentos usados na Física e na Astronomia e desenvolveu fundamentadas críticas à teoria Geocêntrica de Ptolomeu, que considerava a Terra o centro do Universo em torno da qual rodavam todos os outros corpos celestes.
A obra de Hipátia, ou Hipácia, foi practicamente toda destruída com a Biblioteca de Alexandria.
O seu drama foi o de ter vivido num tempo de ascenção da intolerância e do obscurantismo nos lugares onde antes floresciam o pensamento e a cultura. Era uma intransigente defensora da liberdade do pensamento e do culto da dúvida num tempo de dogmatismo e ortodoxia religiosos.
Por ensinar que o Universo era regido por leis matemáticas, por ser livre e por ser mulher, foi considerada "herética" e condenada à morte por um bispo cristão que fora seu aluno na Academia.
Atacada na rua, foram-lhe arrancados os braços e as pernas e o seu corpo queimado numa pira .
O bispo Cirilo, mais tarde santificado, terá considerado que, assim, o Sol andaria à volta da Terra e tudo ficaria no seu lugar.
O filme Ágora, recentemente estreado, é uma fantástica narrativa que homenageia esta mulher, a filosofia e o pensamento livre.
20 dezembro 2009
God Bless The Dreamers!!!
O sonhador pode ser tolo
pode ser estúpido
pode ser ingénuo.
Não aprende e erra,
recalcitra,
volta a sonhar.
O sonhador insiste,
resgata o que ficou
do sonho que lhe chega,
que não acabou.
Ah!, mas é aqui que quero estar. Com outros sonhadores do meu país.
* Supertramp - Dreamers
Pintura de Eric Fischl
19 dezembro 2009
Um Povo
Qual Obama, Lula é que é líder
O dinheiro que está sendo colocado na mesa é um pagamento pela emissão de gases-estufa feitas por dois séculos por quem teve o privilégio de se industrializar primeiro...(Aqui)
... Não é uma tarefa fácil, mas foi necessário tomar essas medidas para mostrar ao mundo que, com meias palavras e com barganhas, a gente não encontraria uma solução nesta Conferência de Copenhague... (Aqui)
A intervenção (pública)do Presidente do Brasil, revelou um estadista com um discurso ideológico sério, firme e carregado de futuro para os povos da América Latina, África e Ásia. É de supor que essas fossem as posições assumidas nas reuniões preparatórias onde as "grandes potências" (poluidoras) quiseram aprovar acordos da (sua) conveniência.
Se não foi possível saírem conclusões sérias desta reunião, é porque ainda não houve força suficiente, mas haverá certamente nos próximos anos, porque a história não pára.
18 dezembro 2009
17 dezembro 2009
No balanço de 2009, este o melhor filme que vi.
O envelhecimento, o abandono e a solidão nas grandes cidades, a xenofobia, a descoberta do outro e o reencontro connosco, tudo tratado de forma magistral por um dos maiores realizadores de cinema actuais (que acha "apenas" ser um bom contador de histórias).
Jamie Cullum (1979) cantor, pianista e compositor. Fabuloso, um nome a fixar.
The stars
Above my head
Warning signs
Travel far
I drink instead
On my own
Oh,how I've known
The battle scars
And worn out beds
Gentle now
A tender breeze
Blows
Whispers through
A Gran Torino
Whistling another
Tired song...)
Ai, Um Sismo!
De repente, a cama abana com violência.
A cadela desata a ladrar e a correr.
A parede oscila.
Sim, foi um sismo de 5-7 na escala de Ritcher.
Parece que o epicentro foi perto de Faro...Uffff!
Fica tudo tão urgente, tão pequeno,tão mesquinho. À espera, será que repete?
Fica aqui este relato.
Já vi pior, em 69, bem pior.
Agora está tudo em paz.
15 dezembro 2009
Encontro com a solidão
Acho que um dia aprendi o que era
Eu moro num bairro pobre, um bocadinho de uma aldeia dentro de Lisboa, com merceariazinhas, padariazinhas, cafezinhos, pessoas pobres, a maior parte delas velhas, pequenos comércios, pequenos marginais, inclusive pequenos travestis e costumo comer nos restaurantes pequeninos que há ali à volta.
A um desses restaurantes vai jantar às vezes uma Senhora, uma actriz de teatro, que eu não conhecia, uma actriz do tempo do António Silva, do Vasco Santana, da Beatriz Costa, que mora na Estefânia e vai a pé, à hora do jantar, já com certa dificuldade em andar, e senta-se muito coquete, sempre muito bem vestida, com colares, anéis, o penteado armado com laca e come com gestos preciosos, cirúrgicos, cheia de mindinhos – há pessoas em que todos os dedos são mindinhos, têm uma delicadeza aérea de mindinhos – e então as mãos dela mexem nos talheres como se estivessem dançando com eles.
Eu perguntei ao dono do restaurante – que é assim um Senhor que foi louro e de olhos azuis, conserva os olhos azuis, mas perdeu o louro, que se chama Arménio e que poderia ter competido com o Vergílio Teixeira nos filmes portugueses dessa época e que é extraordinariamente bem-educado, extraordinariamente delicado – perguntei”Quem é?” e ele disse-me “é fulana tal, que era uma grande actriz e continua a vir aqui jantar. Sabe, ela continua a deitar-se às duas da manhã porque continua ainda no tempo da sua glória teatral, em que os artistas na época se deitavam tarde e então fica a fazer não sei o quê e só vai para a cama a essa hora, mantém o mesmo horário dos seus tempos de glória”. E estava ali a comer, sozinha. Dois ou três dias depois, entrei no restaurante, ela estava lá e, não sei, foi um daqueles impulsos que todos nós temos às vezes, fui ter com a Senhora e disse-lhe “dá-me licença que lhe beije a mão?” Ela estendeu-me a mão, imperial, de princesa, que cheirava bem ainda por cima, e que eu beijei e depois pedi licença para me sentar e ficámos a falar e a certa altura disse “ a Senhora tem um sorriso tão bonito. Importa-se de me fazer um sorriso?” E ela, toda arranjada, olhou para baixo e eu reparei que estava a tirar da carteira o espelhinho para ver se estava bem pintada e então tirou um tubo e concertou o bâton até fazer uma boca perfeita, em forma de copa de carta de jogar, só então é que levantou os olhos para mim, olhou para mim e sorriu. Eu tinha a impressão que aquele sorriso estava dentro de uma lágrima e fiquei com a certeza de que não há nada mais bonito do que um sorriso dentro de uma lágrima.
Foi, até hoje, o sorriso mais bonito que me deram, o mais bonito que eu vi.
E enquanto ela sorria, era tão engraçado porque de repente era uma rapariga nova, de repente tinha dezasseis, dezassete, dezoito anos, as rugas desapareceram, o cabelo pintado passou a ser natural, os gestos dela ficaram fáceis, os olhos eram uns olhos de uma menina coquete, numa espécie de flirt, num jogo de sedução. E depois, quando o sorriso acabou, a menina desapareceu, os dezasseis anos desvaneceram-se, apareceram rugas, voltou a ficar corcovada na mesa e voltou a estar diante de mim uma actriz já muito idosa que fica acordada até às duas da manhã, a lembrar-se, diante da televisão apagada, dos seus tempos de glória.
António Lobo Antunes, in Viver mais, viver melhor, Fórum Gulbenkian Saúde
14 dezembro 2009
Blogger
Por que escrevemos em blogues?
13 dezembro 2009
Homenagem
Edson Cordeiro (1967) é um extraordinário cantor brasileiro de formação clássica.
Começou a carreira no teatro infantil e, em 1983, participou da ópera rock Amapola. Em 1988 foi actor e cantor na versão brasileira da ópera-rock Hair. Teve um enorme êxito e apoio da crítica nos anos 90. O seu ecletismo tem levado a que grave desde sambas a árias de ópera. Em 2008 iniciou o projecto “The Woman’s Voice" – A Voz da Mulher. Nele, Edson Cordeiro homenageia uma das suas grandes inspirações: a voz feminina. Neste contexto, interpreta grandes cantoras, entre elas: Billie Holiday, Yma Sumac, Shirley Bassey, Zarah Leander, Edith Piaf, Madonna e, naturalmente, brasileiras: Carmen Miranda, Elis Regina e Dalva de Oliveira.
Está actualmente em digressão por Portugal.
11 dezembro 2009
nós por cá, todos bem
O Orçamento do país, apresentado ontem ao fim do dia, prevê uma redução global da despesa de seis mil milhões de euros nos próximos dois anos, noticia hoje a imprensa internacional. O objectivo mais vasto é conseguir uma redução do défice público de 11,7 por cento este ano para 2,9 por cento em 2014.
A Irlanda enfrenta este ano a maior recessão da zona euro, com uma previsão de recuo do PIB da ordem dos oito por cento. O pais pode mesmo sofrer três anos seguidos de recessão: depois de no ano passado ter tido um recuo de 2,3 por cento do produto, para o próximo a previsão é idêntica.
Esta recessão, que é também a maior da sua história moderna, pôs a Irlanda a braços com uma paralisa do mercado imobiliário e com um sistema bancário à beira do colapso.
O salário dos funcionários públicos será reduzido em dez por cento.
Para dar o exemplo, o primeiro-ministro vai reduzir o seu próprio salário em vinte por cento e o dos seus ministros em 15 por cento.
O subsídio às crianças vai ser reduzido para 16 euros mensais, o que, juntamente com cortes nas prestações para os desempregados, vai permitir poupar 760 milhões de euros em despesas da Segurança Social no próximo ano.
O ministro das Finanças disse também que alguns impostos podem aumentar em 2011 e que os serviços públicos terão um corte de mil milhões este ano.
Fonte: publico.pt em 10/09/2009 (ontem)
A leitura do site do Público hoje , quando alguns países de economia mais débil na Europa discutem as consequências da crise e algumas das complexas formas de a ultrapassar, tem como destaques noticiosos os seguintes:
(Nós, entretidos com as nossas coisinhas, à espera que os problemas se resolvam sozinhos).
Imagem: Aqui
10 dezembro 2009
09 dezembro 2009
08 dezembro 2009
Aminetu Haidar
A 13 de Novembro, Aminetu Haidar, ex-prisioneira politica e activista dos Direitos Humanos, foi impedida de desembarcar do avião pelas autoridades marroquinas no aeroporto de El Aaiun.
Regressava de Nova Iorque onde recebera o prémio da “Coragem Civil 2009” da fundação John Train.
A razão "oficial" da interdição para desembarcar em Marrocos, seguida de interrogatório em isolamento e expulsão do país foi a recusa em se considerar marroquina nos documentos de entrada no país.
Actualmente no aeroporto de Lanzarote, para onde foi expulsa, está decidida a prolongar o protesto que é, agora, um combate que alastra pelo mundo.
Um juiz, um médico, polícias e um interprete deslocaram-se ontem ao aeroporto de Lanzarote para examinar o estado de saúde de Haidar. No momento em que foi confrontada com a visita, a activista disse Não quero receber mais cuidados médicos. Sou dona da minha vontade e dos meus actos.”
07 dezembro 2009
Os meninos de Bhopal
Em Bhopal, há 25 anos que nascem meninos e meninas sem lábios, nariz, orelhas. Alguns sem mãos.
Na noite de 3 de Dezembro de 1984, mais de 27 toneladas de gás venenoso rebentaram um tanque de armazenamento na fábrica de pesticidas da Union Carbide, na cidade.
A inalação do gás provocou a morte imediata de 8.000 pessoas que a essa hora dormiam (afogadas no sangue dos pulmões desfeitos, segundo testemunhos).
Desde o acidente, calcula-se que tenham ocorrido aproximadamente mais 20.000 mortes em resultado desta tragédia.
Existem, entretanto, cerca de 390 toneladas de químicos tóxicos no subsolo, abandonados pela empresa Union Carbide, responsável pelo desastre. Estes poluentes continuam a afectar a água de toda a região
Há múltiplos estudos que revelam ali a presença de mercúrio, niquel e outros tóxicos, bem como níveis perigosos de toxinas no leite das mulheres que amamentam.
Os sobreviventes e as crianças entretanto nascidas continuam a sofrer de doenças, não só as que decorrem de terríveis malformações congénitas, mas também o cancro e a tuberculose.
Os sobreviventes desenvolvem uma ampla campanha contra o esquecimento do seu drama, com maior visibilidade agora que se cumprem 25 anos sobre o desastre (http://www.bhopal.net/), mas Bhopal é tão longe...
06 dezembro 2009
exigências de um engenheiro
- Bom dia, Lena. Traga-me um café curto em chávena escaldada... e diga-me, tem sonhos?
- Tenho, sim, mas não são de hoje...
- Ah, então não quero.
05 dezembro 2009
E como seria... se uma casa sonhasse?
04 dezembro 2009
un bello paese, la Torre pendente di Pisa è a posto e il Colosseo anche
O escritor Antonio Tabucchi colocou-se ao lado do jornalista em artigo também publicado no mesmo jornal, referindo expressamente, no entanto, que o senador tinha sido absolvido, apesar das suspeitas. Renato Schiafani, segunda figura do estado italiano e suporte político de Berlusconi, processou o escritor pedindo uma indeminização de 1,3 milhões de euros por "danos de imagem".
Tabucchi considera que o senador é um homem de "pouca sorte", pois ao longo de 15, 20 anos fundou empresas "sem nunca se aperceber que o fazia com mafiosos, presos sempre que ele acabava de sair" dessas empresas (Aqui).
O julgamento, entretanto, teve início em Pisa em Maio deste ano.
Entre os primeiros subscritores encontram-se os cineastas Theo Angelopoulos, Costa-Gravas, os escritores Philip Roth, Jorge Semprun e Fernando Savater, bem como os Prémio Nobel José Saramago e Orhan Pamuk.
Referindo-se ao seu país (embora fosse possível estender o comentário a outros) Tabucchi comentou: assim vai a Itália, um belo país. Pelo menos, a torre de Pisa está no lugar, o Coliseu também.
03 dezembro 2009
Dudamel, fruto da Utopia
A Orquestra Simón Bolívar é a face mais visível deste programa e a presença do maestro Gustavo Dudamel, ele próprio um "produto" deste programa, dá-lhe uma dimensão e visibilidade planetária.
O "Sistema" na Venezuela , que é, há 34 anos, uma rede de ensino musical gratuito após o horário escolar, com fornecimento de instrumentos, levou ao aparecimento de 30 orquestras profissionais (havia 2 antes do "Sistema" ser criado).
Ontem ao fim da tarde dirigiu a Orquestra Juvenil Ibero-Americana, na Gulbenkian. Um concerto cujos lugares não foram suficientes para todos os interessados.
02 dezembro 2009
Deana Barroqueiro
Deana Barroqueiro retira do Velho Testamento todo o trajecto feminino, de mulheres que aprenderam a ser fortes na sua aparente fraqueza, narra as brutalidades a que eram submetidas, num mundo de crueza masculino, aprendendo com a malícia e sensualidade que a autora descreve com elegância e mestria.
30 novembro 2009
Maria Manuela Rama Costa
Há que discutir, ensinar, reprovar, condenar por todos os meios este nojo. Sem contemplações, sem desculpas nem justificações ou encolher de ombros. Trata-se de uma questão civilizacional que respeita a todos.
Vozes da minha memória
28 novembro 2009
"infância é um antigamente que sempre volta"*
- Podemos ficar já aqui, não? - ela.
- Não, aqui não podemos, tia... Vamos lá mais para o pé da rotunda.
- Mas não podemos ficar aqui, nesta praia tão "verzul"? - ela sorriu para mim.
- Não, tia, aqui não se pode. Esta tão praia verzul é dos soviéticos.
- Dos soviéticos?! Esta praia é dos angolanos!
- Sim, não foi isso que eu quis dizer...É que só os soviéticos é que podem tomar banho nessa praia. Vês aqueles militares ali nas pontas?
- Vejo sim...
- Eles estão a guardar a praia enquanto outros soviéticos estão lá a tomar banho. Não vale a pena ir lá que eles são muito maldispostos.
- Mas porquê que essa praia é dos soviéticos?- agora sim, ela estava mesmo espantada.
- Não sei, não sei mesmo. Se calhar nós também devíamos ter uma praia só de angolanos lá na União Soviética...
Ondjaki, Bom dia Camaradas, Ed.Caminho, 2001
27 novembro 2009
花样年华 (ou a inspiradora realidade)
Conclusions: Sexless is prevalent among certain subgroups of urban Chinese couples in Hong Kong and the large discrepancy in sexless between married men and women in each age strata suggests a high prevalence of extramarital relationships. Contrary to commonly held beliefs, there was a stronger association between sexlessness and poorer phycological symptoms among females than males. Sexless marriages are an underppreciated phenomenon among urban Chinese individuals.
Sexlessness among married Chinese adults in Hong Kong: Prevalence and assotiated factors. J. of Sex Med 2009;6:2997-3007
26 novembro 2009
25 novembro 2009
e é assim que nos sentimos de alma lavada
Reconciliados com a vida.
24 novembro 2009
"It's a hard life"
Freddie Mercury (5/09/46 – 24/11/91)
Podemos não gostar dos efeitos de alguns clips, mas acho, sinceramente, que o poder interpretativo e a excentricidade, aliados ao dinamismo e carisma da sua estrela maior, fazem dos Queen um marco incontornável da história do rock.
A banda já vendeu mais de 300 milhões de cópias no mundo inteiro e é liderada actualmente por Brian May (guitarrista) e Roger Taylor (baterista). Precursora do rock tal como hoje o conhecemos, Queen foi uma das mais populares bandas britânicas dos anos 70 e 80, com concertos e videoclips magnificamente produzidos. Embora nunca tendo sido levada a sério pelos críticos da sua época, que consideravam a sua música “comercial” (a crítica de hoje considera os Queen como uma das melhores bandas de rock de todos os tempos), a banda tornou-se uma das mais famosas entre o público, justamente graças à conjugação única das complexas e elaboradas apresentações ao vivo e do potencial vocálico de Freddie Mercury.
O vídeo que seleccionei traz-nos nas palavras, a ideia de que, também em matéria de amor, é sempre mais fácil desistir.
It's a hard life
To be true lovers together
To love and live forever in each others hearts
It's a long hard fight
To learn to care for each other
To trust in one another right from the start
When you're in love
Este post é dedicado a um jovem fã incondicional dos Queen que, de vez em quando, se passeia cá por casa (e a cantar "Mama, carry on, carry on").
22 novembro 2009
Estação De Santa Apolónia
Já foi assim: Reparem na estrutura de ferro, tão expressiva.
21 novembro 2009
O corpo como objecto de design
O tema tem ali algumas intervenções muito interessantes, como a de Leonel Moura: Criatividade Artificial; Miguel Chevalier: Flores Fractais ou Philip Ross: Plantas Cibernéticas, todas em torno da utilização dos avanços tecnológicos na criação artística.
Outras obras são, no mínimo, inquietantes, como a de Sterlac, defensor da ideia de que o corpo já não é só um espaço de expressão de ideias ou intervenção social, mas passou a ser também uma estrutura modificável ("the body not an object of desire but an object of designing"). É dentro deste conceito que surge a sua última obra, ainda inacabada, de criação duma terceira orelha no antebraço esquerdo. Quando terminada, esta orelha terá um equipamento que, por bluetooth, coloca na internet todos os sons por ela "ouvidos".
All together now, "to make it better"
Após o sucesso dos primeiros flashmobs , a T-Mobile, sob o mote Life’s for Sharing, convocou centenas de pessoas para comparecem, no dia 30 de Abril de 2009, na Trafalgar Square, em Londres. À hora marcada, 13.500 pessoas estavam lá, receberam os microfones e cantaram o melhor que puderam o tema (já tão esgotado) Hey Jude, dos Beatles.
A faixa parece que ganha, então, uma nova vida e o resultado é emocionante.
Mais uma aposta na ideia de que a propaganda do século XXI não é tanto sobre produtos e serviços, mas sobre pessoas.
Desejo a todos um excelente fim de semana.
20 novembro 2009
O Meu País
O que fizeram ao meu país?
19 novembro 2009
reflexão em torno de pandemias e outras exaltações
Neste início do século, sobretudo nas sociedades ocidentais, a doença e a morte são acontecimentos estranhos, misteriosas e, em larga medida e qualquer circunstância, inaceitáveis. Abrimos uma excepção para as doenças terminais em que aceitamos, às vezes exigimos, a morte como forma de alívio ao sofrimento (sobretudo o nosso).
Construiu-se um conjunto de expectativas em torno da saúde e do corpo que se tornaram dominantes na sociedade: esperamos sentir-nos bem, sem incapacidades, dores ou desconforto até muito tarde. Sempre, se possível.
É intolerável a morte de uma criança e espera-se que todas tenham uma infância sem doenças, que as mulheres tenham filhos sem complicações e que qualquer intervenção cirúrgica seja sempre bem sucedida.
O facto de, quase sempre, estas expectativas se concretizarem faz com que a "verdade" de reforce.
A saúde, o bem estar e a ausência de sofrimento tornaram-se uma forma de religião em que o falhanço e o inexplicável não é aceite, justamente porque a Medicina se tornou uma crença.
E não é.
18 novembro 2009
Duas extraordinárias mulheres, um momento único.
Alison Balsom (1978), trompetista, Sarah Connolly (1963), mezzo-soprano, George Gershwin (1898 – 1937), a Orquestra Sinfónica da BBC, os Concertos Promenade e a prova (se preciso fosse) de que só existem dois tipos de música, a boa e a má.
Apreciem, ou, como diriam no Royal Albert Hall, enjoy!!.
O Violoncelo De Sarajevo
Autor:Steven Galloway
16 novembro 2009
muito louco de ser feliz
Os arquivos do programa Radiola, da TV Cultura são importantes registos da história do Brasil e da sua música.
O YouTube tem os mais importantes: Elis Regina, Chico Buarque, Caetano, Luis Gonzaga e tantos outros.
Este que aqui fica é, na minha opinião, um dos mais significativos. Pela beleza da filmagem e pelas palavras, ditas e cantadas, deste homem extraordinário.
15 novembro 2009
"...mas se a gente quiser, sei que vai dar pra mudar o final"
14 novembro 2009
Pedro Alvim (As Cheias em Novembro de 1967)
Um bombeiro, uma pilha nas mãos, tentava auxiliar a minha leitura, uma leitura triste, sincopada, hesitante de quando em quando. Eu sabia que tinha os mortos todos atrás de mim, indiferentes, quietos, não se importando absolutamente nada que lhes trocasse os nomes. Mas eu não queria cometer o mínimo erro, o mais pequeno deslize.
“Se tu és João” – dizia para mim – “és João. E se o teu nome é Mário, o teu nome será Mário. E caso te chames Rosa, não te chamarei Lucília.”
E teimava, teimava em ser exacto, pedia, pedia ao bombeiro que mantivesse o foco da pilha sobre o papel em que tinha escrito os nomes dos mortos. E carregava nas moedas de cinco tostões, mantinha a ligação telefónica, identificava-os um a um.
O tempo passava, o tempo passava sem luz eléctrica, e eu estava sempre ali ao telefone, e os familiares dos mortos iam entrando, (que longa bicha!), identificavam os mortos, os nomes dos mortos eram-me dados, e eu dava os nomes dos mortos ao jornal.Ouvia o choro dos vivos, ouvia o silêncio dos cadáveres, ouvia a noite lá fora – Depressa! Depressa! – diziam-me do jornal – Depressa que é para a terceira edição!
Iam-me faltando as moedas de cinco tostões, sentia-me aflito, pedia que me trocassem moedas de cinco, dez escudos.E os nomes dos mortos continuavam na minha boca, lidos um a um, o mais exactamente possível.
Como um preito de homenagem.
Como um choro.
Chegavam aos meus ouvidos pormenores da tragédia, da chuva, da lama.Eu carregava nas moedas de cinco tostões, afligia-me com o seu desaparecimento contínuo e, automatizado já, ia lendo os nomes dos mortos à luz da pilha.
Escuridão total.
– Acabou-se a carga! – disse o bombeiro.
O suor tomou-me o corpo todo – e os meus dedos amarfanhavam o papel com os nomes dos mortos ainda não transmitidos.
E agora? E agora? Agora que a pilha tinha dado de si – que fazer?
– Acendam fósforos! – gritei – Estes fósforos!
E assim foi: à chama tremida do enxofre, dos fósforos, acesos um a um, fui lendo o nome dos mortos que restavam, que estavam ainda no papel, sem o mais pequeno deslize.
“Se tu és João” – dizia para mim – “és João. E se o teu nome é Mário, o teu nome será Mário. E caso te chames Rosa, não te chamarei Lucília“.
Quando, finalmente, abandonei o telefone, ganhei a rua, respirei a noite, apeteceu-me loucamente um cigarro, um cigarro que me turvasse, um cigarro para esquecer aquilo tudo.Meti, os pulmões ansiosos, um cigarro na boca – mas não pude, não pude fumar, não pude acender o cigarro: os mortos tinham queimado todos os meus fósforos.
PEDRO ALVIM
Foto:Aqui
Os livros são objectos transcendentes
(...)
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.
(...)
Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.
Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas .
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou o que é muito pior por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um
(...)
Vale a pena ler aqui uma concisa mas enriquecedora abordagem ao álbum "Livro", de 1998.
13 novembro 2009
entre dois sorrisos, uma declaração de amor
...Um labirinto de corredores e estantes repletas de livros subia da base até à cúspide, desenhando uma colmeia tecida de túneis, escadarias, plataformas e pontes que deixavam adivinhar uma gigantesca biblioteca de geometria impossível. Olhei para o meu pai, boquiaberto. Ele sorriu, piscando-me o olho.
- Bem-vindo ao Cemitério dos Livros Esquecidos, Daniel.
Salpicando os corredores e plataformas da biblioteca, perfilavam-se uma dúzia de figuras. Algumas delas voltaram-se para cumprimentar de longe, e reconheci os rostos de diversos colegas de meu pai do grémio de alfarrabistas. Aos meus olhos de dez ano, aqueles indivíduos afiguravam-se uma confraria secreta de alquimistas a conspirar nas costas do mundo. O meu pai ajoelhou-se ao pé de mim e, sustendo-me o olhar, falou-me com aquela voz leve das promessas e das confidências.
- Este lugar é um mistério, Daniel, um santuário. Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte.(...) Quando uma biblioteca desaparece, quando uma livraria fecha as suas portas, quando um livro se perde no esquecimento, os que conhecemos este lugar, os guardiães, asseguramo-nos de que chegue aqui.(...) Na loja nós compramo-los e vendemo-los, mas na realidade os livros não têm dono. Cada livro que aqui vês foi o melhor amigo de alguém. Agora só nos têm a nós, Daniel. Achas que vais poder guardar este segredo?
O meu olhar perdeu-se na imensidade daquele lugar, na sua luz encantada. Fiz um sinal de assentimento e o meu pai sorriu.
Carlos Ruiz Zafón, A Sombra do Vento, Dom Quixote, 2008
Foto: Trinity College Old Library, Dublin
A Sombra do Vento é um livro maravilhoso. Uma fantástica narrativa sobre livros, o encanto mágico que têm e nos trazem. No excerto, destaco a maravilha que é ser-se levado a amar os livros desde que se começa a olhar o mundo e os homens.
Julgamento de Zé do Telhado
11 novembro 2009
Os loucos...e os outros
Arno Gruen, in A Loucura da Normalidade, Assírio & Alvim, 1995
"Morrem cedo os que os deuses amam"
Eu menino às onze horas e trinta minutos
a procurar o dia em que não te fale
feito de resistências e ameaças — Este mundo
compreende tanto no meio em que vive
tanto no que devemos pensar.
A experiência o contrário da raiz originária aliás
demasiado formal para que se possa acreditar
no mais rigoroso sentido da palavra.
Tanta metafísica eu e tu
que já não acreditamos como antes
diferentes daquilo que entendem os filósofos
— constitui uma realidade
que não consegue dominar (nem ele próprio)
as forças primitivas
quando já se tem pretendido ordens à vida humana
em conflito com outras surge agora
a necessidade dos Oásis Perdidos.
E vistas assim as coisas fragmentariamente é certo
e a custo na imensidão da desordem
a que terão de ser constantemente arrancadas
— são da máxima importância as Velhas Concepções
pois
a cada momento corremos grandes riscos
desconcertantes e de sinistra estranheza.
Resulta isto dum olhar rápido sobre a cidade desconhecida. Mais
E abstraindo dos versos que neste poema se referem ao mundo humano
vemos que ninguém até hoje se apossou do homem
como frágil véu que nos separa vedados e proibidos.
António Maria Lisboa
* Philip Glass - Mad Rush
Imagem: quadro do surrealista H. Risques Pereira